Eu já falei sobre diversos assuntos aqui no blog, e agora quero falar um pouco sobre fotojornalismo. Quero aproveitar as recentes polêmicas sobre “RAW x JPG” e “ISO 50 x 3200” para colocar alguns pontos importantes e relatar na prática quando a escolha tem que ser feita e nem sempre pode ser considerada “a melhor”. E justamente vale lembrar que o melhor não é único e verdadeiro, e o JPG pode sim ser melhor que o RAW ( antes de você começar a achar que eu estou errado, peço que tenha paciência que vou explicar até o fim do post….. Prometo!)
Para “ilustrar” esse post, vou contar sobre uma pauta que fiz aqui em São Paulo. Quem gosta de judô com certeza ficou sabendo que nossa cidade sediou a Copa do Mundo de Judô. E eu fui clicar para a Confederação Brasileira de Judô, o que trazia além da responsabilidade, a obrigação de ter muitas fotos, de várias lutas, além de outros detalhes. Vou restringir o assunt do post somente sobre as lutas, que é perfeito para ilustrar minhas colocações. Então vamos falar de ISO… Meu amigo Adriano Gonçalves criou uma polêmica enorme ao falar que ISO alto é ruim porque granula, mesmo nas Full-frames. Aqui entra um detalhe enorme: qual será o uso da imagem? O Adriano imprime em papel especial, fine art, grandes tamanhos. E ele não curte ruído ( nem os clientes que ele atende ). Totalmente justificável. Por outro lado meu outro amigo Allan Elly usa sem medo ISO alto e sabe até que limite pode ir. Mas vamos para minha situação…..
Quem já fotografou no ginásio do Ibirapuera sabe que a iluminação lá, mesmo depois das reformas, não é assim “uma brastemp”. Isso já cria uma limitação. E lembram o que estava rolando? Não…..não era xadrez. Era judô, um esporte que os golpes são rápidos, e ter uma velocidade de obturador que mantivesse a nitidez desejada com aquela luz precária só seria possível usando ISO alto. Nem uma 200mm 1.8 ( sim…essa lente para Canon existe! ) seria a solução com ISO 400. E antes que alguém pergunte, flash é proibido para não atrapalhar os atletas. Solução? Trabalhei com ISO entre 2500-4000, o que me permitia brincar um pouco mais com a velocidade preservando a profundidade de campo necessária. Resumindo o primeiro dilema: Algumas situações é necessário ISO alto, e não adianta ter técnica, pois é uma limitação física/matemática ( luz/sensor/lente/movimento). E em fotojornalismo a “arte” tem outra conotação, e a foto considerada “vendável” pelos editores tem muito mais a ver com contexto, momento e composição do que ruído. A grosso modo, quem repara nas capa de jornais e revistas acaba vendo fotos com muito ruído mas carregada de informação, efetivando o motivo dela estar ali. Pronto….já podem comentar sobre a primeira polêmica do post. Então vamos para a segunda….. Qual formato de arquivo usar.
Antes de começar já aviso os mais apressados: é claro que RAW tem mais qualidade, liberdade de edição e permite corrigir mais os erros do click. Mas em contrapartida exige uma conversão e um tratamento individual. Agora vamos volta a minha situação:
Estava fotografando três lutas simultâneas durante as eliminatórias, duas durante as disputas de bronze e felizmente apenas uma na disputa do ouro. Eu tinha que enviar as fotos por ftp para uma agência, que estava disponibilizando online no site. Recapitulando: na melhor das hipóteses eu estava fotografando uma luta, descarregando as fotos, selecionando, fazendo resize e subindo para o ftp. Para quem acha que dá para fazer isso em RAW, vou colocar alguns números: o JPG full da minha câmera tem aproximadamente 20% do tamanho do arquivo RAW ( uns 30mb ) Vamos imaginar 100 fotos por luta. Em JPG são 600mb, e em RAW ridículos 3Gb !!! Quanto tempo levo para descarregar, selecionar, tratar e converter 3Gb em comparação com 600mb ( lembrando que os 600mb não necessitam de conversão pois está em JPG )? Essa rapidez e praticidade que o JPG tem, em algumas ocasiões, principalmente no fotojornalismo, é imbatível. E o ganho de qualidade pelo RAW não é percebido por causa das mídias utilizadas e tamanhos de ampliações. Claro que sei quando preciso usar RAW, e seleciono ele no menu com a maior felicidade, mas também sei reconhecer quando ele passa a ter mais aspectos negativos do que positivos, e nessa hora não tenho medo do JPG. E justamente esse “medo” do JPG acaba trazendo muitos para o RAW. Grande parte dos que migram para o RAW por medo é por insegurança, já que justamente a edição e recursos do JPG permitem menos erro. Tem os que migram para o RAW porque precisam dessa flexibilidade e ganho na qualidade. E tem aqueles que fotografam em RAW sem entender a vantagem, apenas porque todos falam que é melhor. E para esses últimos, um aviso: não adianta usar RAW e converter todas da mesma forma, em um click, no LR. É praticamente igual a usar o JPG….. Leia um pouco mais sobre o formato e o que ele proporciona, e gaste um pouco mais de tempo com a edição, e verá a diferença.
Bom, falei do ISO e do RAW, e faltou um complemento contando sobre o Judô. Lembra que mencionei o tamanho dos arquivos? Então vamos a outro detalhe, que muitas vezes passa despercebido.
Eu estava com duas câmeras com grip, três lentes, dois flashes, pilha, bateria e um monopé. Esse era só o equipamento de fotografia. Ainda precisaria de um notebook, fonte e modem 3G. Nesses casos levar o iPad e fazer tudo por ele é muito melhor, já que o tamanho, peso, 3G embutido e duração da bateria juntos fazem ele o parceiro ideal do fotojornalista. Poderia ter levado um notebook ? Sim…. Mas tem os pontos negativos que já mencionei. Acho que poderia continuar o post, agora falando sobre iPad x Notebook, mas chega de polêmica por hoje. E como quis mostrar, para mim não tem o certo ou errado, apenas situação mais apropriada para determinado recurso. E você, usa sempre RAW ou JPG ? ISO alto ou baixo ? Deixe sua opinião! E para finalizar, uma foto do celular mostrando eu na área de imprensa. :)).

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Guto Marcondes – fotografia
Twitter: @gutomarcondesbr